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Estórias da História

Publicações recomendadas

É estranho ainda não terem feito um filme/série do Aníbal, atravessar pelos Alpes com elefantes não era para qualquer um. Provavelmente o maior oponente não romano que Roma alguma vez teve a seguir a Spartacus e ás invasões bárbaras.

 

Aníbal, Alexandre o Grande, Júlio César, Saladino são as minhas figuras históricas preferidas

Editado por vinsanity

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Fala também dos Mouros aqui em Al-Andalus.

Editado por Gaberlunzie

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A Quarta Cruzada (1202-1204)

 

Foi por intermédio do papa Inocêncio III, que deve ter entendido ser inconcebível o mundo cristão estar 10 anos sem ir espalhar a Cristiana fé à espadeirada para a Terra Santa, isso ou o facto de Jerusalém ainda estar na posse dos infiéis muçulmanos, que a mais fantástica de todas as Cruzadas teve início. O que se segue é um breve e imparcial resumo sobre a espantosa viagem dos pios e honrados cavaleiros cristãos sob a protecção da Cruz de Cristo.

 

Como disse, após 10 anos desde a última Cruzada, que reuniu apenas os três chefes máximos da cristandade de então, Frederico I Barba Roxa, Imperador do Império Romano-Germânico, Filipe Augusto, rei de França, e Ricardo Coração-de-Leão, rei de Inglaterra, o papa Inocêncio III voltou a apelar aos bons e cristãos cavaleiros para darem um salto a Oriente para espalharem a fé cristã. Desta vez, porém, os reis católicos europeus tinham mais que fazer e apenas responderam figuras menores: Bonifácio I, marquês de Montferrat, Balduíno IX, conde de Flandres, Henrique Dandolo, dodge de Veneza, e Luís, conde de Blois. Ficou então delineado que o objectivo seria o Egipto e que lá chegariam por mar, para evitar situações mais complexas como a morte de Frederico I Barba Roxa na Cruzada anterior, ele que caiu durante a travessia de um rio e morreu afogado antes mesmo de pisar o solo sagrado da Terra Santa.

 

Para a travessiam, acordou-se que Veneza fornecia os navios, comprometendo-se a preparar o suficiente para que 30 mil homens embarcassem. Primeiro problema: na hora de embarcar, apareceram pouco mais de 10 mil cristãos, e não havia dinheiro suficiente para pagar os barcos. Os venezianos apresentaram uma contra-proposta: havia uma cidade na costa do Adriático, na actual Croácia, de seu nome Zara que andava a chatear os venezianos com os seus negócios, não faço ideia se seriam da indústria têxtil, mas com a qual Veneza já estava a ficar um pouco incomodada. E como pouco incomodados estavam com ela, propuseram que os Cruzados fizessem um desvio e a riscassem do mapa. Só como aviso. E lá foram os Cruzados destruir uma cidade cristã em nome da glória do Senhor. O de Veneza, obviamente.

 

Segundo problema: a pilhagem rendeu menos do que se esperava e ainda estavam em dívida com Veneza. Calhou neste período, e escreve Deus direito por linhas tortas, que no Império Bizantino houvesse um golpe e que Isac II Anjo fosse destronado do seu trono em Constantinopla, actual Instambul. O seu filho Aleixo Anjo foi a Zara pedir ajuda aos Cruzados, comprometendo-se a pagar a dívida a Veneza e muito mais pelo favor, e os Cruzados seguiram para Constantinopla, onde destronaram o usurpador e recolocaram Isac II Anjo no poder. Por lá ficaram mais um ano, só para garantir, em nome de Deus, que o imperador não fosse de novo deposto. E também que o pagamento fosse feito, mas certamente razão menor que a anterior.

 

A situação degradou-se depressa. As diferenças culturais levaram a constantes conflitos entre os cristãos ocidentais e os nativos cristãos orientais; Isac II Anjo também não dava mostras de realizar as promessas do seu filho; eventualmente a situação resultou em mais uma revolta popular e à morte do imperador e seu filho. O novo imperador, Aleixo V Ducas, desprezava tudo o que fosse ocidental e, em especial, latino, e procurou escorraçar os Cruzados. Em resposta, os homens que, recorde-se, estavam ali em nome de Deus, sob a protecção da Cruz de Cristo e em nome da Fé Católica, pegaram nas armas e atacaram, pilharam e destruíram tudo o que puderam.

 

O Império Bizantino foi dividido entre os comandantes; Balduíno IX, conde de Flandres, tornou-se Balduíno I de Constantinopla, a dívida foi paga a Veneza e terminava assim mais uma Cruzada para honra e glória do Senhor, com a destruição da maior cidade cristã do mundo de então. Os Cruzados nunca colocaram um pé sequer em território muçulmano durante toda a Cruzada.

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Ferdinand Porsche (dark suit, left of picture) introduces a prototype model of the VW Beetle to Adolf Hitler (approx. mid 1930s).

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Um selo de 1993 assinalando os 450 anos da chegado dos Portugueses ao Japão.

Editado por Gaberlunzie

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Guest Dpitz

Não sei se isto se enquadra bem neste tópico, no entanto, dos tópicos existentes, acho que este é o mais acertado para este tipo de texto:

 

A roda do povo

 

Declaram ao mundo que se submetem à lei única dos que ousam sobreviver entre as agruras das serranias e dos penedos. Para nove meses de Inverno e três de inferno, as gentes barrosãs inventaram uma forma muito própria de viver. De hábitos e tradições ancestrais, com aroma a fumeiro, a urze e a carqueija, repetem que para lá do Marão, mandam os que estão.

 

«Aqui, em Pitões, jamais alguém será encontrado sem vida mais do que dois dias. Aquilo que se vê nas cidades seria impossível». Enquanto arrasta duas sacas de batatas, Ana Moura traça a fronteira entre dois mundos. «Como alguém não dê sinais de vida, botamos a porta abaixo sem pedir autorização e que venha a guarda prender o povo inteiro». Enquanto conversamos, a lareira mergulha as chouriças e as alheiras no fumo e o calor queima-lhe o rosto. Admite que o apelo da cidade é forte mas que nunca abandonaria a sua terra. «Aqui, o dinheiro que temos é pouco. Não podemos ter o que têm lá. Mas nunca faltará trabalho e, a não ser quando é um mau ano de colheita, não passaremos fome.»

 

Às onze da noite, a temperatura queda-se pelos zero em Pitões das Junias, aldeia encravada no Gerês, a 1200 metros, no concelho de Montalegre. No primeiro dia do ano, recuperados da festa que teve a fogueira popular como protagonista, a população junta-se no mesmo largo para cantar as Janeiras. De tochas e versos nas mãos, caminham de porta em porta e reúnem as ofertas de quem lhes abre as casas. Chouriças, alheiras, vinho e queijo que vão encher a mesa do almoço comunitário que realizarão dias depois.

 

Entre as ruas de granito, misturam-se alguns turistas e filhos da terra que emigraram noutros tempos de miséria. Mas também migrantes destes novos tempos. Ana Paiva, proveniente de Gaia, não resistiu ao apelo de Pitões das Júnias e, de visita, rumou à aldeia com amigos durante anos sucessivos. Até que decidiu ficar e com o companheiro passou a gerir uma das tabernas mais agradáveis daquelas paragens. A Terra Celta conseguiu, num só ano, atrair galegos apaixonados pelo seu país e músicos que cultivam o gosto pela gaita-de-foles.

 

A Andorra galaico-portuguesa

A meia hora de carro, depois de Montalegre, entre o escarlate das árvores ainda vestidas, ergue-se a cabeça do Larouco. A montanha que recebeu o nome do milenar deus pagão alberga nas suas faldas meia dúzia de aldeias portuguesas e galegas. As suas populações foram protagonistas, durante séculos, de uma realidade tão própria que nem a definição de fronteiras pôde separar. Ainda que a sinalética rodoviária insista em indicar os caminhos para Espanha, em mais de metade das placas aparece a spray azul a palavra Galiza.

 

Contra a teimosia dos que julgam espanhóis quem vive na parte norte do Larouco, as semelhanças linguísticas entre os vizinhos de ambos lados da raia desmentem a tese espanholista de que a Galiza é e sempre foi Espanha. Ainda antes de Portugal conquistar a sua independência, fundava-se uma das experiências mais duradouras de comunhão entre os povos do Larouco. Até ao século XIX, existiu uma zona independente de qualquer Estado e que englobava três aldeias: Ruivães, Meãos e Santiago.

 

Com organização própria, o Couto Misto conferia aos seus habitantes o direito de optar por uma ou outra nacionalidade, ou mesmo por nenhuma. Ficavam isentos de qualquer imposto português ou espanhol, não eram obrigados a cumprir serviço militar e não precisavam de licença para porte de arma. Para além disso, tinha o privilégio de poder dar asilo aos foragidos da justiça de ambos Estados.

 

Larouco, o deus dos contrabandistas

 

Avessos às imposições estatais, esta parte da fronteira foi das mais violadas do país. As mulheres e homens que desafiaram as autoridades de ambos os lados da fronteira fizeram-no para alimentar as suas famílias. Mas os barrosões e galegos também rasgaram as convenções que pretendia barrar a convivência milenar. Fizeram do contrabando uma arte e nem a sintonia entre o regime de Salazar e os fascistas espanhóis, que se levantaram em 1936, comandados por Franco, conseguiram esmagar a solidariedade galaico-portuguesa.

 

Milhares de refugiados e resistentes anti-franquistas, pertencentes à parte democrata da guerra civil, procuraram abrigo na região do Barroso. Foram muitas as famílias transmontanas que deram abrigo às vítimas da barbárie fascista. Já depois de consolidada a vitória de Franco, as montanhas da zona foram visitadas por grupos guerrilheiros que se haviam recusado abandonar a luta armada.

 

Se houver um deus no mundo que seja rezado por foragidos, devia chamar-se Larouco. A divindade pagã que é também o mais alto dos montes da região não foi só refúgio dos que guiavam os seus rebanhos pelas encostas. Deu também esconderijo a guerrilheiros, protegeu a identidade de emigrantes e refugiados políticos. Mas, principalmente, serviu de caminho a contrabandistas.

 

Democracia avançada em tempos de crise

 

Imagine-se uma terra em que é uma roda a que mais ordena. Uma roda feita de casas e casas feitas de gente. Imagine-se que, desde tempos de que não fala a memória, é neste relógio de ruas lamacentas e habitações de granito que o sentido dos ponteiros decide, a cada semana, quem faz o pão. Imagine-se mulheres e homens que planificam as actividades económicas do seu dia-a-dia sob regras que aliviam o peso do indivíduo e fortalecem a comunidade.

 

Até há bem pouco tempo, era assim em boa parte das aldeias de Montalegre. Em algumas, ainda restam hábitos desse trabalho levantado pela força dos braços unidos. A quem tem dez cabeças de gado cabe-lhe o dobro de dias, vinte, nas encostas do Larouco a pastar todos os animais dos vizinhos. A regra é igual para todos e abre espaço para que cada um tenha tempo para cuidar de outras tarefas individuais ou comunitárias. Embora as terras estejam divididas e cada um tenha a sua colheita, em geral, a segada era feita em conjunto. Todos comiam. Independentemente da propriedade, o que definia o respeito por cada habitante era o trabalho. A quem não possuía animais ou terras cabia-lhe arranjar os caminhos e o património comum da aldeia como o Forno do Povo.

 

Para este mundo agreste, os transmontanos descobriram, à sua escala e com as devidas diferenças, o que a tanta gente custa entender. Se todas as praças e avenidas deste país fossem Rodas do Povo jamais governariam os que nos abrem feridas. Quem nos afundou as pescas, quem nos enterrou os campos, quem nos desmantelou as fábricas, quem nos encheu as aldeias de silêncios de cemitério fê-lo porque um rico faz-se sobre as sombras divididas de muitos pobres. Talvez devamos aprender mais com os que sujam as mãos de terra e menos com os que enchem os bolsos de dinheiro. A união dos que trabalham é o que ilumina um dos maiores valores universais da humanidade: a justiça social.

E isto passou-se aqui, naquelas lindas terras cada vez mais desertas.

Editado por Dpitz

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Desconhecia por completo que tinham estado tropas americanas, britanicas, canadianas e Japoneses em territorio russo no pós WW I

 

Guerra civil Russa

http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Civil_Russa

 

Ocupação Aliada da Sibéria

http://pt.wikipedia.org/wiki/Interven%C3%A7%C3%A3o_na_Sib%C3%A9ria

 

 

 

 

Só recentemente, a ler um livro da epoca, me deparei com isto, foi mesmo uma surpresa...

Editado por P_KOR

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Uma pequena curiosidade: ontem, dia 18 de março de 1314, assinalou-se a data da execução de Jacques de Molay, último grão-mestre dos Templários. Foi queimado vivo em Paris por ordem do papa Clemente, após a intensa perseguição lançada por Filipe, o Belo, rei de França, que se dedicou à extinção dos Templários durante o seu reinado, em parte porque os Templários se haviam tornado demasiado influentes, mas também porque tinha uma avultada dívida para com eles.

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Faz hoje, 14 de Abril, 82 anos que se proclamou a Segunda República Espanhola.

 

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A Segunda República surgiu em 1931, após vários anos de ditadura de Primo de Rivera (regime com o apoio da monarquia espanhola). Após estar no poder desde 1923, ele foi finalmente "destronado" e gerou-se um cocktail interessante de correntes ideológicas que levaram à queda da Monarquia e à formação de um governo provisório liderado por Niceto Alcalá-Zamora.

 

A nova República constitucional promoveu um corte radical com o passado recente. Entre as suas primeiras e mais famosas medidas, a devolução das liberdades individuais aos espanhóis, o término das limitações ao voto feminino, a retirada de poderes aos membros da nobreza espanhola, nacionalizações, e o "ataque" à Igreja Católica.

 

A Segunda República durou até 1939 mas a sua morte começou a desenhar-se em 1936. Apesar de a esquerda ter vencido as eleições desse ano, a direita promoveu a formação de uma série de movimentos paramilitares inspirados no Fascismo italiano (penso que o principal foi a Falange). A tensão e a violência chegaram a um ponto de ruptura e a Guerra Civil tornou-se inevitável. O desenlace dessa guerra já todos conhecemos, infelizmente.

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Dear Folks:

 

Arrived here last night, and was on the street today when the armistice with Germany was signed. Anyone who was not here can never be told, or imagine the happiness of the people here. They cheered and cried and laughed and then started all over again.

 

Immediately a parade was started on the Rue De Italiennes and has been going on ever since. In the parade were hundreds of thousands of soldiers from the U.S., England, Canada, France, Australia, Italy and the colonies. Each soldier had his arms full of French girls, some crying, others laughing; each girl had to kiss every soldier before she would let him pass.

 

The streets are crowded and all traffic held up. There are some things, such as this, that never will be reproduced if the world lives a million years. They have taken movies of the crowds, but you can't get sound nor the expression on the people's faces, by watching the pictures.

 

There is no where on earth I would rather be today than just where I am. Home would be nice, and is next, but Paris and France is Free after four years and 3 months of war. And oh, such a war! The hearts of these French people have simply bursted with joy. I have had many an old French couple come up to Major Merrill and me and throw their arms about us, cry like children, saying, "You grand Americans; you have done this for us."

 

It is impossible to buy a flag in Paris today. Everyone has one it seems and the old streets are one solid mass of colors from all the allied nations. Paris, that grand old city that has been dark for so long, is now all lighted up. Listen - my window is open - and somewhere there has been an American band assembled. They are playing My Country 'Tis of Thee.

 

Folks! It's wonderful! So full of feeling and meaning.

 

Thank God, thank God, the was is over. I can imagine all the world is happy. But no where on earth is there a demonstration as here in Paris. I only hope the soldiers who died for this cause are looking down upon the world today. It was a grand thing to die for. The whole world owes this moment of real joy to the heroes who are not here to help enjoy it.

 

I cannot write any more.

 

Lovingly, your boy, Chas.

 

Contributed by Lois Normington Haugner

 

 

 

Carta de um soldado americano em Paris no dia 11 de Novembro de 1918 (data do final da 1ª Guerra Mundial)

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23 de Abril

Otelo Saraiva de Carvalho entrega, a capitães mensageiros, sobrescritos fechados contendo as instruções para as acções a desencadear na noite de 24 para 25 e um exemplar do jornal a Época, como identificação, destinada às unidades participantes.

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Guest Dpitz

Sr. Vaart, estou à espera que faças aí um mega-post do 25 de Abril de 1974, just saying 8)

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Eu, há umas páginas atrás, comecei o relato da primeira parte do dia da Revolução e até tenho, algures no PC, a continuação, mas o tempo não tem sido muito para concluir o documento, infelizmente. O material tenho-o todo à mão, contudo chega o final do dia e a vontade para fazer algo bem feito é pouca.

Editado por Vaart

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24 de Abril:

O jornal República, em breve notícia, chama a atenção dos seus leitores para a emissão do programa Limite dessa noite, na Rádio Renascença .

 

@ Centro de Documentação 25 de Abril

 

Há que recordar que a censura controlava, de forma quase doentia, os órgãos de comunicação e nem a Emissora Católica, conhecida como Rádio Renascença, escapava a esse controlo apertado. Aliás, o regime era bastante crítico em relação aos programas desta rádio, especialmente do Limite, que era transmitido todos os dias entre a meia-noite e as duas da manhã.

 

Somente alguns dos elementos do Limite sabiam do que se estava a passar. Os jornalistas do República podem ter sabido devido às suas relações com os militares de Abril e também pelos contactos estabelecidos com alguns radialistas.

 

No programa em questão iria ser lida a primeira quadra da música "Grândola Vila Morena", de Zeca Afonso, e em seguida iria ser emitida a restante música.

 

Todavia, até essa hora muito teve de ser feito para que a Revolução viesse a dar os frutos desejados.

Editado por Vaart

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Operação Viragem Histórica - De 24/04/1974 a 25/04/1974 – Parte I

 

Estava-se no ano de 1974, Portugal encontrava-se sob um regime ditatorial há vários anos. Existia censura, uma polícia política e uma Guerra Colonial que há muito se prolongava, e que levava, frequentemente, os oficiais do Exército Português para África, bem como os jovens portugueses. O seu destino era incerto, muitos deles nunca voltariam e só seriam relembrados por medalhas de Sangue e Guerra no dia 10 de Junho, os que voltavam, apresentavam marcas, físicas e psicológicas, indeléveis e que os iam marcar para o resto das suas vidas. A Guerra Colonial e a publicação do decreto-lei 353/73 (que permite a passagem dos oficiais do quadro especial de oficiais (Q. E. O.) aos quadros permanentes das armas de Infantaria, Artilharia e Cavalaria, mediante a frequência de um curso intensivo na Academia Militar), mobilizam os militares portugueses a criar um movimento clandestino (Movimento das Forças Armadas - MFA) que pretendia, de início, satisfazer as suas reivindicações, mas que mais tarde, se transformou no movimento libertador do País. O Movimento nascido a 21 de Agosto de 1973, foi oficialmente definido como Movimento das Forças Armadas (MFA) ou Movimento dos Capitães a 09 de Setembro desse mesmo ano. Até 24/03/1974 o Movimento teve várias reuniões que resultaram no delineamento de uma operação militar para resgatar o País da ditadura vigente e devolver a liberdade ao povo português.

 

Houve alguns fatos que aceleraram esta revolta militar, a publicação do livro Portugal e o Futuro por parte do General António de Spínola, um oficial que criou a sua reputação na Guerra Colonial, e que defendia que a solução para a guerra, em que Portugal se encontrava, era política e não militar. Outra situação que exacerbou, ainda mais, o estado revolucionário que se sentia no ar foi a demissão, por parte do Governo, de António de Spínola e do General Francisco Costa Gomes, que se recusaram a prestar vassalagem ao Regime, na cerimónia de solidariedade para com este, também designada como Brigada do Reumático.

 

 

Na sequência destes acontecimentos desencadeou-se uma revolta militar, por parte de militares fiéis a Spínola, a 16/03/1974, mas que não teve qualquer sucesso, dado que somente o Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha marchou sobre Lisboa.

 

 

Estes três acontecimentos aceleraram a necessidade de realizar um Golpe de Estado eficaz e conducente aos objetivos definidos pelo MFA. Segundo o Major Otelo Saraiva de Carvalho, o principal mentor do Programa Operacional designado Viragem Histórica, esse Golpe teria que ser feito até 30/04/1974, porque até essa data a Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE)/Direção Geral de Segurança (DGS) estaria mais ocupada prender os ativistas políticos de esquerda que clamavam pelo 1.º de Maio.

 

A 24/03/1974 realizou-se a última reunião do MFA e a 23/04/1974 (quase um mês depois) o Major Otelo Saraiva de Carvalho entregou a oficiais do exército, denominados oficiais mensageiros, a Ordem de Operações, o documento que indicava o dia, data e hora de início do Movimento sublevado. Além desse documento, Otelo Saraiva de Carvalho deu a esses mensageiros um exemplar do jornal Época, que os identificava, perante os restantes membros do MFA, que se encontravam nas unidades que participariam no golpe, como portadores de notícias sobre o Movimento. Nesse documento estava definido que o Movimento iria desencadear as suas operações na noite de 24/04/1974 para 25/04/1974. Uma preocupação do Movimento foi arranjar senhas para indicar às unidades o início do Golpe e a sua hora de saída das unidades, para isso foram contactadas várias rádios e só os Emissores Associados de Lisboa e a Rádio Renascença se comprometeram com o Movimento. No dia 24/04/1974 surge no jornal República uma chamada de atenção para o programa Limite, da Rádio Renascença, dessa noite, onde viria a ser transmitida uma das músicas sinal – Grândola Vila Morena – e que era o sinal para as unidades começarem a preparar-se para sair dos aquartelamentos.

 

 

 

A partir desse momento os dados estavam lançados e a situação era considerada irreversível, atingira-se o ponto de não retorno. Todos os oficiais de patente superior do MFA convidaram os soldados a aderir à Revolução, garantindo que, em caso de o Golpe não correr bem, eles iriam ser ilibados, porque era o seu dever respeitar a hierarquia militar.

 

Uma das forças mais reputadas na Revolução foi a Escola Prática de Cavalaria (EPC) de Santarém, que a partir de 16/03/1974 começou a ser olhada de lado pelas gentes da terra, por não ter aderido à tentativa de Golpe. Quem comandou as forças da EPC foi o Capitão Salgueiro Maia que profere, na minha opinião, um dos discursos mais motivantes da Revolução que termina com: há vários tipos de Estado, os estados comunistas, os estados capitalistas e o estado a que chegámos (Portugal). Nós vamos a Lisboa acabar com o estado a que chegámos.. Mas, nem tudo correu bem, o Regimento de Infantaria 1, Amadora, decidiu não alinhar no Movimento, surgindo, assim, o primeiro contratempo da Revolução.

 

Toda a situação era comandada a partir do Posto de Comando situado Regimento de Engenharia 1, situado na Pontinha. Para o correto funcionamento deste posto, o Major Garcia dos Santos teve que fazer um pedido extraordinário ao Chefe de Estado-maior do Exército, para montar uma linha telefónica entre a Escola Prática de Transmissões (situada na Graça, Lisboa) e o Regimento sito na Pontinha. Essa operação foi feita num tempo recorde, dada a distância entre estes dois locais, demorando menos de 24 horas. No Posto de Comando encontravam-se: Major Sanches Osório, Major Hugo dos Santos, Major Garcia dos Santos (responsável pelas transmissões), Tenente-coronel Lopes Pires, Capitão Luís Macedo (coautor do Plano de Operações), Major Otelo Saraiva de Carvalho (coautor do Plano de Operações) e Comandante Vítor Crespo. Estes homens coordenaram a Operação Viragem Histórica com a maior firmeza e coragem possível, até nos momentos mais perigosos.

 

A primeira força a sair foi a Escola Prática de Artilharia (Torres Novas) que vinha ocupar o Cristo Rei e apontar as suas baterias de fogo, onde, supostamente, os membros do Governo se iriam refugiar – Monsanto. Todavia, esta situação não se veio a verificar, uma vez que Marcello Caetano e seus Ministros foram para o Carmo, porque a GNR estava do lado do Regime vigente. De Santa Margarida saem Companhias de Caçadores para controlar as antenas da Emissora Nacional. De Tomar, vem o Major Hugo dos Santos (que depois se desloca para o Posto de Comando) a comandar uma força de Comandos para apanhar os oficiais de Cavalaria 7, uma força altamente fiel ao Governo. Do Campo de Tiro da Serra da Carregueira sai uma força para capturar os estúdios da Emissora Nacional. De Santarém desloca-se a força da Escola Prática de Cavalaria, com uma missão abrangente, ocupar o Terreiro do Paço (onde se encontrava o Ministro do Exército – só mais tarde o Posto de Comando iria perceber esta situação, através da captação de uma chamada entre este Ministro e o Ministro da Defesa), o Banco de Portugal e a Rádio Marconi. Da região de Lisboa, saem o Batalhão de Caçadores 5 (Missão: ocupar o Quartel-General da Região de Lisboa, defender a casa do General António de Spínola e cercar o Rádio Clube Português – a voz do MFA) e a Escola Prática de Administração Militar (Missão: ocupar as instalações da televisão). No Norte do País, o objetivo ocupado e que tinha maior preponderância foi o Quartel-General da Região do Porto. Por volta das 7h20m, de 25/04/1974 todas as posições já estavam ocupadas.

 

Voltando um pouco atrás. Por volta das 03h00m há uma chamada telefónica entre o Ministro do Exército (General Andrade e Silva) e o Ministro da Defesa (Dr. Silva Cunha), onde é feito o ponto da situação militar do País, que se dizia estar calma, não havendo quaisquer problemas nas unidades. A partir desse momento as forças que iriam ocupar o Terreiro do Paço teriam mais uma missão, prender os Ministros. Inicialmente, só estava no Terreiro do Paço o Ministro do Exército, mas, mais tarde, juntaram-se a ele, o Ministro da Defesa e o Ministro do Interior (César Moreira Baptista). Contudo, esta nova missão não seria cumprida, dado que os Ministros, através da perfuração de uma parede fogem do Ministério do Exército para o Ministério da Marinha, e, protegidos por uma força de Cavalaria 7, fogem, o Ministro do Interior para o Quartel do Carmo e o Ministro do Exército para paradeiro incerto.

 

Outra chamada, por volta das 05h00m, também iria marcar a Revolução. Esta teve como protagonistas o diretor da PIDE/DGS, Silva Pais, e Marcello Caetano, onde este último toma conhecimento da existência de um movimento revolucionário. A primeira reação do Presidente do Conselho é dizer que se iria dirigir para Monsanto, tal como o Posto de Comando tinha previsto, mas Silva Pais diz que os Revoltosos poderiam pensar assim, dado que ele tinha estado lá em 16/03/1974, e aconselha a ida para o Quartel do Carmo, uma vez que a GNR estava ao lado do regime.

 

Operação Viragem Histórica - De 24/04/1974 a 25/04/1974 – Parte II

 

Os pontos nevrálgicos, definidos pelo Comando Operacional do Movimento, começavam a ser tomados. A RTP, a Emissora Nacional, o Rádio Clube Português (RCP), o Aeroporto de Lisboa, o Quartel-General de Lisboa, o Estado-Maior do Exército, o Ministério do Exército, o Banco de Portugal e a Marconi, ficaram, totalmente, tomados pelas forças às ordens do Movimento das Forças Armadas. Um ponto estratégico seria o Rádio Clube Português, onde seriam transmitidos os comunicados do Movimento à Nação. Esta escolha não foi aleatória, havia um grande motivo para a escolha desta rádio e não de outra. O RCP tinha um gerador, o que possibilitava a continuidade da emissão mesmo que a eletricidade fosse cortada, algo que veio a acontecer durante a tarde do dia 25/04/1974. Este pormenor foi fundamental para os Revoltosos terem uma estação que lhes possibilitasse transmitir ao País, com transparência, aquilo que se estava a passar.

 

Por volta das 04h26m é emitido o primeiro comunicado do Movimento das Forças Armadas. A sua transmissão deveria ter ocorrido mais cedo, mas as forças que foram controlar o Aeroporto de Lisboa sofreram um ligeiro atraso e havia uma máxima, só se emitia o comunicado depois de conquistados todos os pontos nevrálgicos. Como faltava o Aeroporto, o comunicado foi adiado para as 04h26m, hora em que o País, pela voz de Joaquim Furtado (jornalista/radialista), começava a perceber o que se estava a passar.

 

 

Aqui, Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas. As Forças Armadas Portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calma. Esperamos, sinceramente, que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal, para o que apelamos para o bom senso dos comandos das forças militarizadas, no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas. Tal confronto, além de desnecessário, só poderá conduzir a sérios prejuízos individuais que enlutariam e criariam divisões entre os portugueses, o que há que evitar a todo o custo. Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português, apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica esperando a sua ocorrência aos hospitais, a fim de prestar a sua eventual colaboração que se deseja, sinceramente, desnecessária.

 

A partir deste momento, já seria difícil voltar atrás, a máquina estava em marcha e o desencadear das operações era inevitável, viver-se-iam, durante este dia, momentos históricos, que ficariam para sempre no imaginário coletivo de todos os portugueses.

 

Depois do comunicado foi feito, no “Quartel-General” do Movimento, um novo ponto da situação, onde foram enunciadas as principais conquistas até àquele momento. Tudo estava a correr bem, ou melhor, de acordo com o esperado, à exceção das operações no Porto, que ainda não tinham sido levadas a cabo. Nesta cidade, o mais importante era conquistar o Quartel-General. Nos instantes que se seguiram o Major Jaime Neves entra na Pontinha e diz que não conseguiu apanhar os chefes de Esquadrão de Cavalaria 7. Ou seja, não conseguiu prender os indivíduos que faziam parte do núcleo de confiança do Regime. Aqui, estávamos perante uma questão de sorte, seria provável que Cavalaria 7 fosse defender os Ministros que estavam no Terreiro do Paço, todavia se Salgueiro Maia chegasse lá primeiro, com as forças da Cavalaria de Santarém, a situação ficaria resolvida a favor dos revoltosos. Como medida de prevenção foi pedido à Cavalaria de Estremoz que acelerasse a sua chegada a Lisboa para ajudar Salgueiro Maia. Neste mesmo período discutia-se a problemática da Força Aérea, que ninguém sabia para onde ia cair, ou seja, se ficaria fiel ao Regime ou se ficaria fiel aos Revoltosos. Existiam, também, outras preocupações, como a GNR (maioritariamente fiel ao Governo) e os Fuzileiros, comandados por Pinheiro de Azevedo - que viria a integrar a Junta de Salvação Nacional.

 

Simultaneamente, o primeiro Regimento de Cavalaria 7, comandado pelo Alferes David e Silva, dirigia-se para o Terreiro do Paço, com o objetivo de deter a coluna militar vinda de Santarém e defender o Ministério do Exército. Há uma frase enigmática no meio do discurso deste oficial, ele disse que quando chegassem ao local supracitado iam agir de acordo com a situação, ou seja, não existia uma obediência cega ao Regime, existia, sim, um enorme pragmatismo em relação a toda esta situação. A coluna desta força iria chegar tarde ao Terreiro do Paço e acabaria por se render ao Capitão Salgueiro Maia, dado que as forças de Santarém chegaram primeiro, por volta das 06h00m. A frase que marca toda esta situação é proferida pelo Alferes David e Silva: Ai vocês já cá estão?!. O desfecho era inevitável e esta força de Cavalaria 7 acabou por se passar para o lado dos Revoltosos.

 

No Ministério do Exército pairava alguma preocupação, porque, desta vez, e ao contrário de 16 de Março, havia mais tropa na rua, existia um domínio de alguns meios de comunicação e isso estava a exercer uma enorme pressão psicológica sob o Governo. Quando o Ministro do Exército dá a ordem para todas as forças de Lisboa saírem às ordens do Governo, há uma situação interessante, essa ordem chega à Pontinha (local onde estava montado o Quartel-General dos Revoltosos) e o oficial responsável, Capitão Luís Macedo, informa que as suas forças não iam sair, porque estavam com problemas nas viaturas. Por essa hora, ocorre a chamada telefónica já supracitada entre Silva Pais (PIDE/DGS) e Marcello Caetano (Presidente do Conselho de Ministros). Nesta conversa houve alguma tensão, porque a situação era descrita como muito grave, havia mais tropa na rua e a Força Aérea ainda não tinha tomado uma posição. Ao invés de ir para Monsanto, o que seria a solução mais consensual, Marcello Caetano foi aconselhado a ir para o Quartel do Carmo, dado que a GNR se mantinha fiel ao Governo.

 

Chega o amanhecer e ocorre o primeiro contacto entre o Capital Salgueiro Maia (nome de código Charlie 8) e o Posto de Comando (nome de código Óscar), em que se faz um ponto da situação no Terreiro do Paço, alvos conquistados e forças que se tinham passado para o lado Revoltoso, neste caso, só uma – o primeiro Esquadrão de Cavalaria 7. A ordem vinda do Posto de Comando era para prender os Ministros e foi enfatizada, mais uma vez, a preocupação existente com a indefinição da Força Aérea.

 

Por volta das 07h30m, na Rua Ribeira das Naus, perto do Terreiro do Paço, surge o segundo Esquadrão de Cavalaria 7, comandado pelo Tenente-Coronel Ferrand D’Almeida. Depois de uma conversa com o Capitão Salgueiro Maia, onde foram dadas ao Tenente-Coronel duas hipóteses, prisão ou passagem para o lado Revoltoso, o oficial fiel ao Regime escolheu a primeira (porque não conhecia o Movimento) e assim foi feita a primeira detenção por parte das forças da Cavalaria de Santarém. Esta situação foi presenciada pelo secretário do Ministro do Exército, Coronel Álvaro Fontoura, e em seguida foi transmitida Ministro em questão, General Andrade e Silva, que ligou de imediato para Cavalaria 7 e pediu ao Coronel António Romeiras para mandar sair todos os carros de combate. O Coronel António Romeiras e o Brigadeiro Junqueira dos Reis (Comandante da Força de Ordem Pública de Lisboa) eram as últimas esperanças do Governo. No Posto de Comando, o Major Jaime Neves recebe uma ordem do Major Otelo Saraiva de Carvalho, para ir ajudar o Capitão Salgueiro Maia a prender os Ministros, missão que não teve sucesso, como já se referiu.

 

Entretanto, as forças da Artilharia de Torres Novas tinham chegado ao Cristo Rei. A sua missão era apontar as suas baterias de fogo para Monsanto, para onde, supostamente, o Presidente do Conselho de Ministros se ia refugiar. Pouco depois existiu uma conversa telefónica entre o Ministro do Exército e o General Adriano Pires (Comandante da Guarda Nacional Republicana do Carmo), onde foi transmitida uma mensagem de calma e serenidade pelo Ministro e que devia ser transmitida ao Presidente do Conselho de Ministros, que já se encontrava no Quartel do Carmo. O referido Ministro só queria sair do Terreiro do Paço e recuperar a sua margem de manobra.

 

Um dos primeiros momentos de tensão vividos no Terreiro do Paço, mais especificamente na Rua da Alfândega, ocorreu entre o Capitão Salgueiro e o Capitão Andrade e Sousa (GNR), que estava à espera do Brigadeiro Junqueira dos Reis. O Capitão Revoltoso mandou a GNR retirar-se, em resposta o Capitão Andrade e Sousa frisou que, da sua parte, as suas forças, não se iriam revoltar contra as Forças Armadas.

 

Eis que surge outro momento de tensão, o Estado-Maior da Armada (órgão governamental), mandou a Fragata Gago Coutinho fazer marcha atrás nas manobras que estava a fazer ao serviço da NATO e posicionar-se em frente ao Terreiro do Paço, para fazer fogo sobre as forças que lá se encontravam. Foi efetuado um contacto, a partir do Posto de Comando, com um oficial fiel aos Revoltosos que tinha de avisar a Fragata de que, se esta tivesse alguma ação contra as forças que estavam no Terreiro do Paço, a Artilharia de Torres Novas, que estava no Cristo Rei, abria fogo sobre ela e afundava-a. A solução da Fragata acabou por se resolver quando o Comandante foi destituído e substituído por um Imediato que estava do lado dos Revoltosos.

 

A Rua do Arsenal e a Rua Ribeira das Naus começavam a ser invadidas pelas forças fiéis ao Regime, um novo Esquadrão de Cavalaria 7 comandado pelo Major Pato Anselmo (Rua Ribeira das Naus) e outro comandado pelo Coronel António Romeiras e Brigadeiro Junqueira dos Reis (Rua do Arsenal). Estavam prestes a viver-se situações de tensão que iriam marcar, profundamente, o desfecho da Revolução a favor dos Revoltosos. Na Rua do Arsenal, devido à multidão presente foram disparados vários tiros para o ar para que houvesse uma dispersão dos populares.

 

Uma conversa rádio entre o Alferes David e Silva, do lado dos Revoltosos, e o Coronel António Romeiras, do lado do Regime, marca estes momentos. O Regime queria saber quem estava a comandar o Golpe e os Revoltosos entretinham-nos, dizendo que os Generais Spínola e Costa Gomes estavam a chegar ao Terreiro do Paço. O Tenente Alfredo Assunção, de forma algo precipitada, oferece-se para ir falar com o Coronel António Romeiras. No Quartel do Carmo Marcello Caetano traça uma nova linha de guerra, era necessário bombardear o Terreiro do Paço, conseguir o apoio da Força Aérea e a Legião Portuguesa devia retirar aos Revoltosos as estações de rádio e a televisão.

 

O Tenente Alfredo Assunção, quando se vai dirigir para falar com o Coronel António Romeiras, é direcionado para o diálogo com o Brigadeiro Junqueira dos Reis que o esbofeteia, dizendo que não parlamenta com tenentes. Antes disso, os Ministros já tinham fugido e pouco mais havia a fazer no Terreiro do Paço. Porém, um novo momento de tensão ia viver-se, quando o Major Pato Anselmo, na Rua Ribeira das Naus, se recusa, primeiro, a falar com um Alferes, segundo, se recusa a render ao Major Jaime Neves e, terceiro, exige falar com o Coronel Ferrand D’Almeida que estava preso. Era necessário fazer alguma coisa para ultrapassar este impasse, então o Tenente-Coronel Correia de Campos, que havia sido enviado pelo Posto de Comando para o Terreiro do Paço, por ser mais graduado, delega em Brito e Cunha, o único civil a participar no 25 de Abril de 1974 e antigo combatente na Guiné, a responsabilidade de resolver a situação. Este pede uma pistola, que esconde no interior do seu casaco e dirige-se para o Major Pato Anselmo. Ao aproximarem-se um do outro, Brito e Cunha saca da pistola e diz que Pato Anselmo tem três soluções, ou se rende ou Brito e Cunha o mata ou se passa para o lado dos Revoltosos. O oficial fiel ao Regime acaba por se render e as suas forças passam para o lado dos Revoltosos. Mais um momento de tensão resolvido, sem que nenhuma gota de sangue fosse deitada. Não seria este o último momento de colocar os nervos à flor da pele no Terreiro do Paço.

 

Outro momento decisivo aproximava-se. O Brigadeiro Junqueira dos Reis dirige-se para a Rua Ribeira das Naus com o intuito de abrir fogo sobre o Terreiro do Paço, tal como tinha solicitado Marcello Caetano, mas é traído por um oficial fiel ao Regime, Alferes Sottomayor, que se recusa a disparar, sobre Salgueiro Maia, que estava na sua mira e tinha uma granada no bolso, e sobre as restantes forças que se encontravam no Terreiro do Paço. O Brigadeiro Junqueira dos Reis sofre um enorme revés e cria-se uma crença, entre os Revoltosos e as forças do Regime, que a Revolução terá um desfecho favorável aos primeiros. O Coronel António Romeiras acaba por participar desta traição, porque sendo o superior hierárquico direto do Alferes Sottomayor, diz que este só deve disparar à sua ordem.

 

A Revolução no Terreiro do Paço está resolvida (a favor dos Revoltosos), havia agora que dividir forças, parte delas foram para o Quartel do Carmo (Capitão Salgueiro Maia) e a outra parte foi para o Quartel da Legião Portuguesa (Major Jaime Neves), situado na Penha de França.

 

Entretanto o Rádio Clube Português, posto de rádio controlado pelos Revoltosos e que servia para a emissão dos seus comunicados ao País, estava a funcionar à luz da vela. A companhia da eletricidade cortou-lhes a energia, pensando que eles iam parar a emissão, contudo, estrategicamente, o Posto de Comando tinha escolhido esta rádio porque tinha um gerador, o que lhes possibilitava continuar a emitir mesmo sem eletricidade.

 

O Regime estava a caminhar para a sua capitulação e essa situação parecia inevitável, a aviação estava “bloqueada”, a Fragata Gago Coutinho tinha retirado para o Mar da Palha e 50% dos carros de combate fiéis ao Regime tinham passado para o lado dos revoltosos.

 

Iniciava-se o cerco ao Quartel do Carmo, onde se viveriam momentos de grande impasse, maioritariamente, causados pelo Regime que tentava resistir a todo o custo. O Capitão Salgueiro Maia começou uma série de avisos ao Quartel, ameaçando abrir fogo contra este se, ao fim de 10 minutos, não saísse ninguém. Um oficial desse Quartel, do lado dos Revoltosos, Major Hugo Velasco, saiu, sem autorização, à rua para dar conta do que se passava, mas isso não evitou que fossem disparados tiros contra aquelas instalações.

 

Entravam, agora, dois delegados dentro do Quartel do Carmo, um deles teria um papel crucial para o rápido desenvolvimento desta situação, Dr. Pedro Feytor Pinto (Diretor dos Serviços de Informação) que ficou encarregue de levar a mensagem de rendição do Presidente do Conselho de Ministros ao General António de Spínola. O País estava à beira da Democracia e da vitória na Revolução.

 

Sem ter conhecimento desta situação, o Posto de Comando encarrega o Capitão Salgueiro Maia de entrar no Quartel do Carmo para falar com Marcello Caetano, que o informa que enviou uma mensagem ao General António de Spínola, no sentido de resolver toda esta situação. Salgueiro Maia deixa uma ordem aos oficiais da Cavalaria de Santarém que ficavam na rua, se ao fim de alguns minutos ele não regressasse, deviam abrir fogo sobre o edifício, porém isso não foi necessário. A conversa entre Marcello Caetano e o Capitão Salgueiro Maia foi curta:

 

SM - Apresenta-se o Capitão de Cavalaria Salgueiro Maia, comandante das forças sitiantes. Tenho ordens para exigir a sua rendição incondicional.

MC - Já sei que não governo, só quero que me tratem com a dignidade com que sempre vivi.

SM - Isso garanto-lhe eu.

MC - O que é que me vão fazer?

SM - Daqui vai para o Posto de Comando, a partir daí já não é comigo.

MC - Quais são os vossos objetivos?

SM - Liberdade e a democracia, o resto é com o povo e com a coordenadora do MFA.

MC- Quem são os Generais que estão por detrás disto?

SM - Este é o Movimento dos Capitães e isso chega.

MC - Então, e o que vai ser do Ultramar?

SM - Nova Índia não vai ser com certeza, tudo o resto está em discussão.

MC - Senhor Capitão já falei ao telefone com o General Spínola, estou à espera dele. O que quer fazer?

SM - Sendo assim, vou aguardar com as minhas forças a chegada do General Spínola.

 

Durante esses momentos toca o telefone no Posto de Comando, do outro lado da linha estava o General Spínola. O General diz que tinha recebido uma carta do Presidente do Conselho de Ministros e que ele estava pronto a entregar-lhe o poder no Quartel do Carmo. O General havia garantido ao Presidente do Conselho de Ministros que não tinha levantado armas contra o Governo, mas que estava pronto para receber o poder se os responsáveis do Movimento das Forças Armadas assim o decidissem. A resposta do Posto de Comando foi positiva e assim se acabava com uma longa ditadura.

 

O Governo cai com a rendição de Marcello Caetano. Numa tentativa de começar a “achincalhar” o novo poder, o ex-Presidente do Conselho de Ministros recusa sair pelas traseiras do Quartel do Carmo e exige sair por onde entrou, pela porta principal. Spínola diz que não é possível garantir a segurança de Marcello Caetano, ao que este lhe responde que a responsabilidade era, agora, do General, afinal ele era o novo responsável pelo País. Marcello acaba por sair pela porta da frente, foi do Carmo para o Posto de Comando na Pontinha e daí para a Madeira. Se o antigo Regime tinha sido deposto, o novo Regime começava, desde logo, a ter problemas.

 

O General António de Spínola chega ao Quartel do Carmo, agradece o esforço de todos os oficiais que participaram na Revolução e disse que os ia promover a todos, algo que eles recusaram terminantemente. Depois disso, os oficiais disseram ao General Spínola que havia um programa a discutir antes de se fazer qualquer comunicação ao País, Spínola disse que eles já tinham feito o trabalho deles e que agora era a vez dos políticos tratarem da situação. Todavia, simpaticamente, os oficiais do Posto de Comando relembraram que ainda havia carros na rua e que se fosse preciso a Revolução continuava. Depois de largas, e duras, horas de discussão, entre Spínola e os oficiais Revoltosos, surge o primeiro comunicado da Junta de Salvação Nacional (General António de Spínola, General Francisco da Costa Gomes, Brigadeiro Jaime Silvério Marques, Capitão de Fragata António Alva Rosa Coutinho, Capitão de Mar e Guerra José Batista Pinheiro Azevedo, Coronel Carlos Galvão de Melo e General Manuel Diogo Neto) à Nação. O General António de Spínola emergia como Presidente da Junta e, por inerência, era agora Presidente da República.

 

 

Portugal viveria, até 25 de Novembro de 1975, momentos bastante conturbados, mas o 25 de Abril de 1974 foi um marco histórico para o País, porque o libertou de uma longa ditadura e conseguiu fazer uma Revolução sem mortes. Os únicos mortos foram feitos pela PIDE/DGS, já em desespero com o aproximar do fim do Regime. A Liberdade que temos hoje é, quase da total responsabilidade, deste Golpe.

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Vaart, tu em tempos postaste um vídeo do Youtube com uma espécie de documentário/filme que a SIC fez a relatar estes acontecimentos. Não arranjas isso?

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Vaart, tu em tempos postaste um vídeo do Youtube com uma espécie de documentário/filme que a SIC fez a relatar estes acontecimentos. Não arranjas isso?

 

 

Isto?

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Portugal viveria, até 25 de Novembro de 1975, momentos bastante conturbados

 

Fico à espera da Parte II :)

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É verdade que o Otelo, na hora da verdade, e após um ou outro contratempo, quis desistir?

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