Ir para conteúdo
What

Tópico da Política, Ambiente e Economia

Publicações recomendadas

Citação de Puto Perdiz, há 12 horas:

Vocês estão a comparar a estabilidade política pós-25 de Abril com a estabilidade política que havia quando as FP 25 de Abril foram fundadas?

Há uma Circulatura do Quadrado (ou como raio aquilo se chama) onde o Pacheco Pereira fala muito bem sobre isso, as FP 25 não só surgiram muito tarde no contexto revolucionário - como na verdade nem sequer existia esse contexto, Portugal já tinha uma democracia implementada (ao contrário do LUAR, ARA, MLDP ou ELP - fora as independentistas FLA e FLAMA).

Compartilhar este post


Link para o post
Citação de Lebohang, há 1 minuto:

Há uma Circulatura do Quadrado (ou como raio aquilo se chama) onde o Pacheco Pereira fala muito bem sobre isso, as FP 25 não só surgiram muito tarde no contexto revolucionário - na verdade nem sequer existia esse contexto, Portugal já tinha uma democracia implementada (ao contrário do LUAR, ARA, MLDP ou ELP - fora as independentistas FLA e FLAMA).

Yap. A única ligação ao passado, das FP-25, é que alguns dos seus elementos fundadores pertenceram às BR. 

Compartilhar este post


Link para o post
Citação de Puto Perdiz, há 15 horas:

Ele foi julgado e culpado, não é um alegado terrorista. A acusação achou provas suficientes, nomeadamente documentos na sua casa entre outras coisas, para o condenar e ele não conseguiu provar que não tinha ligações às FP 25. O que não conseguiram prova foi o seu envolvimento directo nos crimes de sangue. 

Tinha essa ideia. O Mário Soares não se chegou a meter na condenação dele? 

Chegou a morrer um bebê por causa da FP 25... De herói tem muito pouco

Compartilhar este post


Link para o post

Que anjinho ó Vaart. 

é completamente ridículo homenagear um homem que esteve envolvido em ataques bomba, em homicidios...

Que não se esqueça:

5 de maio de 1980 - assassinado o soldado da GNR Henrique Hipólito, em Meirinhos, Mogadouro,

13 de maio de 1980 - Assassínio de Agostinho Ferreira,

6 de outubro de 1980 - assassinato de José Lobo dos Santos

6 de Dezembro de 1982 - Assassínio de Diamantino Bernardo Monteiro Pereira,

3 de Outubro 1981- Morte de dois militares (Adolfo Dias e Evaristo Ouvidor da Silva) da GNR vitimas da explosão de um carro armadilhado em Alcaínça

13 de outubro de 1981 - assassinado um cliente do banco, Fernando Abreu, com um tiro certeiro no coração.

28 de Outubro 1981 - Disparos nas pernas de um administrador da empresa Carides, João Mesquita de Oliveira, em Vila Nova de Famalicão; ( justificada como uma resposta aos salários em atraso e aos despedimentos efectuados na empresa)

6 de Dezembro de 1982 - Atentado mortal sobre o administrador da Fábrica de Louças de Sacavém, Diamantino Monteiro Pereira, em Almada (A organização justificou-o como uma resposta aos graves conflitos laborais e despedimentos verificados na empresa)

6 de Dezembro de 1983 - Rebentamento de engenhos explosivos com difusão de panfletos em Almada, Barreiro, Lisboa e Setúbal; No atentado em Setúbal é ferido uma criança de apenas 12 anos

30 de Janeiro de 1984 - Assalto a uma viatura de transporte de valores do Banco Espírito Santo, na Marinha Grande que resulta em ferimentos graves (tetraplegia num dos casos) em dois dos seus ocupantes;

30 de Abril de 1984 - Morte de Nuno Dionisio, um bebé de quatro meses e da sua avó num atentado à bomba na casa da sua família em São Manços, Évora. Nuno Dionísio, o bebé de 4 meses, morre da “amputação traumática do membro superior direito no terço médio do braço, bem como uma ferida contuso-perfurante do hemitorax e o esmagamento, com exposição e perda de massa encefálica, do crânio”

23 de Março de 1985 - atentado mortal sobre o empresário da Marinha Grande, Alexandre Souto,

19 de Julho 1985 - Atentado mortal sobre um dos ‘arrependidos’ da organização (José Barradas), na Costa da Caparica, Almada

15 de Fevereiro de 1986 - Assassínio do Director-geral dos Serviços Prisionais Gaspar Castelo-Branco, à porta de sua casa, em Lisboa.

16 de Agosto de 1987 - assassinato do Álvaro Militão

(não inclui os muitos mais feridos graves, tetraplégicos e tentativas de bomba e assassinato em casa das pessoas que não mataram porque não conseguiram)

”Que direito tem a justiça de não achar provas entre as provas factuais, os documentos e os testemunhos vivos das acções político-militares deste Movimento Otelista?", interroga-se ainda Macedo Correia, que sublinha: "As provas que existem contra Otelo e os outros políticos do Projecto Global/FP's 25 são tantas que nem precisariam de comprovação de testemunhas"

Macedo Correia, ex-FP 25 sobre Otelo, condenado que serviu tempo de prisão e só sai por amnistia.

Que se lembrem hoje, acima de tudo, as vitimas e famílias que sangraram. Não pela liberdade que essa já existia vários anos antes.

Ps: reconheço que Otelo teve uma participação na obtenção da liberdade em Portugal. Não consigo apenas lembrar isso e esquecer o que fez a muita gente. Pelos vistos há quem ache que participar numa revolução pode conceder o direito de organizar e ordenar a morte de diversas pessoas, filhos e avós inocentes.

  https://observador.pt/especiais/a-lei-da-bala-os-25-anos-sobre-a-amnistia-as-forcas-populares-25-de-abril/

"Para quem não sabe, a semelhança de apelidos com Gaspar Castelo-Branco não é uma coincidência, é um orgulho. Lembro-me da primeira vez que dei uma entrevista. Teria cerca de 20 anos e quis partilhar a perspectiva das vítimas das FP-25 de Abril. Lembro-me de quanto isso me custou e da violência que representou para a minha família. Lembro-me da mãe do bebé Dionísio, que rompeu num pranto quando foi entrevistada pela Rádio Renascença, mais de 10 anos depois de este ter sido morto à bomba, com apenas 4 meses. É uma recordação permanente, sempre que por ali passo, em São Manços. Lembro-me da mulher do agente Álvaro Militão, grávida de cinco meses aquando do crime, que além do marido perdeu também o filho, que nunca chegou a nascer. Lembro-me do Luís, filho do administrador da Fábrica de Loiças de Sacavém, assassinado à porta de sua casa em Almada, com quem me cruzei profissionalmente e de quem me tornei amigo, mas com quem nunca falei sobre este tema, porque a dor é privada e não gostamos de a partilhar. Foram anos, décadas, até que cada um de nós conseguisse abordar o tema, sem uma tensão ou emoção descontroladas, sem ficar várias noites sem dormir.

Isto porque a dor das vítimas não se esgotou no momento da morte do seu ente querido, mas pelo contrário foi alimentada pela revolta crescente que foram sentindo, na injustiça, o ostracismo ou o silêncio ostensivo a que foram votadas, de factos que se iam acumulando: um julgamento que nunca foi terminado, uma amnistia que branqueou os criminosos, um jornalismo displicente que não hesitava em promover Otelo Saraiva de Carvalho a herói da liberdade, anualmente, no mês de Abril. Fazê-lo não foi apenas um jornalismo insensível, sem isenção e sem rigor. Fazê-lo desta forma foi o que permitiu que hoje, passados 41 anos sobre a formação dos primeiros atentados e 25 anos depois da amnistia, o País não saiba quem foi esta gente e os crimes que praticaram. Se a violência política contra uma ditadura tem óbvias atenuantes, a violência política contra a democracia só pode ter agravantes.

Por isso me obriguei, passados 25 anos sobre a amnistia, a escrever este pequeno ensaio. Não foi, no entanto, um texto fácil de escrever. Por um lado, havia que garantir a fidelidade dos factos, limitada pela reduzida dimensão do ensaio, quase incompatível com a complexidade política e jurídica do tema. Esta é agravada pela abundância de fontes, desde as sentenças dos tribunais, os vários artigos e entrevistas dos intervenientes, do “Expresso” ou do “Diário de Noticias” aos extintos “O Semanário”, “O Jornal” e “O Diário Popular”, aos noticiários da RTP, etc. Meios de várias sensibilidades políticas, mas que nem por isso deixaram de relatar factos objectivos. Por outro lado, havia uma sensibilidade pessoal, expressa em dor e revolta, que tive como objectivo expurgar do ensaio, sem que com isso perdesse a minha visão critica. Espero tê-lo conseguido.

Infelizmente, tudo o que se escreveu até à data foi pouco e muito parcial: primeiro pelos advogados de defesa, depois nas biografias de alguns dos acusados, logo nos anos a seguir ao julgamento, ou o contraditório feito por mim, uns anos mais tarde, em blogues ou em jornais, tarefa que assumi com sacrifício e determinação. Sem falsas modéstias, acredito que contribuí para ajudar a equilibrar o prato da balança, mas não o suficiente. A bem da verdade, seria útil que passados todos estes anos fosse possível que alguém independente, descomprometido, pudesse explicar de A a Z o que aconteceu neste período negro da nossa democracia. Para bem do rigor histórico e pela defesa da liberdade e da democracia. Porque a história não se apaga, nem se reescreve, goste-se ou não dela.

Dedicado ao meu Pai, pela sua coragem, justiça e sentido de dever."

Portanto vai começar o branqueamento geringonçal de um dos maiores crápulas que este regime pariu, devidamente amnistiado pelo criminoso "pai fundador". Imagino que o luto nacional não deva tardar a ser declarado (não em meu nome, seguramente).

https://observador.pt/programas/emissao-especial/hoje-para-mim-morreu-o-assassino-do-meu-pai-mas-nao-e-um-dia-de-alegria/ - a ouvir estas declarações, que descrevem perfeitamente o crápula que foi. É como assassino que tem de ser recordado, por muito que custe a muitos.

Morreu um "Herói " :

  • Maio 1980, atentado bombista contra administrador fabril.

  • Maio 1980, morte de um militar da GNR

  • Outubro 1980, morte de um cliente de um banco durante um assalto.

  • Novembro 1980, ferimentos graves em agentes da PSP e civis após ataque com granada.

  • Fevereiro 1981, Um ferido civil em atentado bombista num banco.

  • Março 1981, civil baleado fica paraplégico.

  • Março 1981, administrador empresarial baleado na pernas.

  • Abril 1981, civil baleado nas pernas.

  • Maio 1981, disparos de rocket contra alvo civil.

  • Junho 1981, troca de tiros com a PSP.

  • Junho 1981, administrador empresarial baleado nas pernas.

  • Agosto 1981, administrador empresarial e motorista baleados gravemente.

  • Setembro 1981, atentado à bomba em Felgueiras.

  • Outubro 1981, morte de dois militares da GNR num atentado com carro armadilhado.

  • Outubro de 1981, assassinado um cliente de um banco durante o assalto.

  • Outubro 1981, administrador empresarial baleado nas pernas.

  • Dezembro 1981, atentado bombista contra 3 postos da GNR.

  • Janeiro 1982, atentado bombista contra posto da GNR.

  • Janeiro 1982, atentado bombista contra residência de um industrial.

  • Abril 1982, atentado bombista contra residências de dois industriais.

  • Junho 1982, atentado com armas de fogo contra dirigentes de cooperativa.

  • Agosto 1982, atentado com carro armadilhado.

  • Agosto 1982, atentado com explosivos contra companhias aéreas.

  • Dezembro 1982, assassinato de um empresário.

  • Fevereiro 1983, tiroteio com PSP, agente da PSP ferido.

  • Março 1983, Guarda Fiscal e Segurança gravemente feridos num assalto.

  • Novembro 1983, atentado bombista contra posto da GNR.

  • Novembro 1983, dois atentados bombistas provocam ferimentos num civil.

  • Novembro 1983, atentado bombista contra empresário.

  • Novembro 1983, funcionário de uma empresa ferido, com lesões permanentes, durante assalto.

  • Dezembro 1982, atentado bombista contra agência bancária.

  • Dezembro 1983, criança de 12 anos ferida em consequência de vários rebentaments de explosivos.

  • Dezembro 1983, atentado bombista contra empresário.

  • Janeiro 1984, atentado bombista contra administradores empresariais.

  • Janeiro 1984, atentado com armas de fogo e cocktail molotov contra residência de administrador empresarial.

  • Janeiro 1984, dois feridos, um fica tetraplegico, em assalto a carrinha de valores.

  • Fevereiro 1984, atentado bombista contra empresários.

  • Abril 1984, atentado bombista contra chefe das Finanças.

  • Abril 1984, morte de bebé de 4 meses e da avó em atentado bombista contra agricultor.

  • Maio 1984, atentado mortal contra administrador empresarial.

  • Junho 1984, ferimentos graves em administrador empresarial em atentado com armas de fogo.

  • Julho 1984, empresário ferido com gravidade em atentado com arma de fogo.

  • Julho 1984, atentado com arma de fogo automática contra posto da GNR.

  • Agosto 1984, atentado à bomba contra empresa.

  • Setembro 1984, atentado com granada contra penitenciária.

  • Setembro 1984, atentado bombista contra agricultores.

  • Janeiro 1985, atentado bombista contra navios NATO.

  • Janeiro 1985, atentado bombista contra agricultor.

  • Fevereiro 1985, atentado bombista contra militares alemães em Beja.

  • Março 1985, assassinato com armas de fogo de empresário.

  • Julho 1985, assassinato de un arrependido.

  • Dezembro 1985, atentado bombista contra objectivo militar em Oeiras.

  • Fevereiro 1986, assassinato a tiro do Director Geral dos Serviços Prisionais.

  • Abril 1986, ataque com arma de fogo contra esquadra da PSP, um agente ferido.

  • Setembro 1986, atentado bombista contra empreendimento turístico.

  • Agosto 1987, morte de agente da PSP por arma de fogo.

 
Editado por Lestonks
  • Like 3

Compartilhar este post


Link para o post
Citação de Plagio o Original, há 2 minutos:

O @Lestonks n sabe q o mundo foi construído através de mortes e genocídios

Mas tou a ver que para ti, uns valem mais que outros. Depende da cor política

Compartilhar este post


Link para o post
Citação de Alonso., há 3 minutos:

Mas tou a ver que para ti, uns valem mais que outros. Depende da cor política

Claro. Infelizmente os meus terroristas favoritos perderam

  • Like 1

Compartilhar este post


Link para o post

Hoje em dia é muito bonito teclar sobre o "monstro" Robespierre, quando foram as suas "monstruosidades" que criaram um novo mundo. 

Igualdade, liberdade, fraternidade. Custe o que custar. 

Compartilhar este post


Link para o post
Citação de Lestonks, há 7 horas:

Que anjinho ó Vaart. 

é completamente ridículo homenagear um homem que esteve envolvido em ataques bomba, em homicidios...

Que não se esqueça:

5 de maio de 1980 - assassinado o soldado da GNR Henrique Hipólito, em Meirinhos, Mogadouro,

13 de maio de 1980 - Assassínio de Agostinho Ferreira,

6 de outubro de 1980 - assassinato de José Lobo dos Santos

6 de Dezembro de 1982 - Assassínio de Diamantino Bernardo Monteiro Pereira,

3 de Outubro 1981- Morte de dois militares (Adolfo Dias e Evaristo Ouvidor da Silva) da GNR vitimas da explosão de um carro armadilhado em Alcaínça

13 de outubro de 1981 - assassinado um cliente do banco, Fernando Abreu, com um tiro certeiro no coração.

28 de Outubro 1981 - Disparos nas pernas de um administrador da empresa Carides, João Mesquita de Oliveira, em Vila Nova de Famalicão; ( justificada como uma resposta aos salários em atraso e aos despedimentos efectuados na empresa)

6 de Dezembro de 1982 - Atentado mortal sobre o administrador da Fábrica de Louças de Sacavém, Diamantino Monteiro Pereira, em Almada (A organização justificou-o como uma resposta aos graves conflitos laborais e despedimentos verificados na empresa)

6 de Dezembro de 1983 - Rebentamento de engenhos explosivos com difusão de panfletos em Almada, Barreiro, Lisboa e Setúbal; No atentado em Setúbal é ferido uma criança de apenas 12 anos

30 de Janeiro de 1984 - Assalto a uma viatura de transporte de valores do Banco Espírito Santo, na Marinha Grande que resulta em ferimentos graves (tetraplegia num dos casos) em dois dos seus ocupantes;

30 de Abril de 1984 - Morte de Nuno Dionisio, um bebé de quatro meses e da sua avó num atentado à bomba na casa da sua família em São Manços, Évora. Nuno Dionísio, o bebé de 4 meses, morre da “amputação traumática do membro superior direito no terço médio do braço, bem como uma ferida contuso-perfurante do hemitorax e o esmagamento, com exposição e perda de massa encefálica, do crânio”

23 de Março de 1985 - atentado mortal sobre o empresário da Marinha Grande, Alexandre Souto,

19 de Julho 1985 - Atentado mortal sobre um dos ‘arrependidos’ da organização (José Barradas), na Costa da Caparica, Almada

15 de Fevereiro de 1986 - Assassínio do Director-geral dos Serviços Prisionais Gaspar Castelo-Branco, à porta de sua casa, em Lisboa.

16 de Agosto de 1987 - assassinato do Álvaro Militão

(não inclui os muitos mais feridos graves, tetraplégicos e tentativas de bomba e assassinato em casa das pessoas que não mataram porque não conseguiram)

”Que direito tem a justiça de não achar provas entre as provas factuais, os documentos e os testemunhos vivos das acções político-militares deste Movimento Otelista?", interroga-se ainda Macedo Correia, que sublinha: "As provas que existem contra Otelo e os outros políticos do Projecto Global/FP's 25 são tantas que nem precisariam de comprovação de testemunhas"

Macedo Correia, ex-FP 25 sobre Otelo, condenado que serviu tempo de prisão e só sai por amnistia.

Que se lembrem hoje, acima de tudo, as vitimas e famílias que sangraram. Não pela liberdade que essa já existia vários anos antes.

Ps: reconheço que Otelo teve uma participação na obtenção da liberdade em Portugal. Não consigo apenas lembrar isso e esquecer o que fez a muita gente. Pelos vistos há quem ache que participar numa revolução pode conceder o direito de organizar e ordenar a morte de diversas pessoas, filhos e avós inocentes.

  https://observador.pt/especiais/a-lei-da-bala-os-25-anos-sobre-a-amnistia-as-forcas-populares-25-de-abril/

"Para quem não sabe, a semelhança de apelidos com Gaspar Castelo-Branco não é uma coincidência, é um orgulho. Lembro-me da primeira vez que dei uma entrevista. Teria cerca de 20 anos e quis partilhar a perspectiva das vítimas das FP-25 de Abril. Lembro-me de quanto isso me custou e da violência que representou para a minha família. Lembro-me da mãe do bebé Dionísio, que rompeu num pranto quando foi entrevistada pela Rádio Renascença, mais de 10 anos depois de este ter sido morto à bomba, com apenas 4 meses. É uma recordação permanente, sempre que por ali passo, em São Manços. Lembro-me da mulher do agente Álvaro Militão, grávida de cinco meses aquando do crime, que além do marido perdeu também o filho, que nunca chegou a nascer. Lembro-me do Luís, filho do administrador da Fábrica de Loiças de Sacavém, assassinado à porta de sua casa em Almada, com quem me cruzei profissionalmente e de quem me tornei amigo, mas com quem nunca falei sobre este tema, porque a dor é privada e não gostamos de a partilhar. Foram anos, décadas, até que cada um de nós conseguisse abordar o tema, sem uma tensão ou emoção descontroladas, sem ficar várias noites sem dormir.

Isto porque a dor das vítimas não se esgotou no momento da morte do seu ente querido, mas pelo contrário foi alimentada pela revolta crescente que foram sentindo, na injustiça, o ostracismo ou o silêncio ostensivo a que foram votadas, de factos que se iam acumulando: um julgamento que nunca foi terminado, uma amnistia que branqueou os criminosos, um jornalismo displicente que não hesitava em promover Otelo Saraiva de Carvalho a herói da liberdade, anualmente, no mês de Abril. Fazê-lo não foi apenas um jornalismo insensível, sem isenção e sem rigor. Fazê-lo desta forma foi o que permitiu que hoje, passados 41 anos sobre a formação dos primeiros atentados e 25 anos depois da amnistia, o País não saiba quem foi esta gente e os crimes que praticaram. Se a violência política contra uma ditadura tem óbvias atenuantes, a violência política contra a democracia só pode ter agravantes.

Por isso me obriguei, passados 25 anos sobre a amnistia, a escrever este pequeno ensaio. Não foi, no entanto, um texto fácil de escrever. Por um lado, havia que garantir a fidelidade dos factos, limitada pela reduzida dimensão do ensaio, quase incompatível com a complexidade política e jurídica do tema. Esta é agravada pela abundância de fontes, desde as sentenças dos tribunais, os vários artigos e entrevistas dos intervenientes, do “Expresso” ou do “Diário de Noticias” aos extintos “O Semanário”, “O Jornal” e “O Diário Popular”, aos noticiários da RTP, etc. Meios de várias sensibilidades políticas, mas que nem por isso deixaram de relatar factos objectivos. Por outro lado, havia uma sensibilidade pessoal, expressa em dor e revolta, que tive como objectivo expurgar do ensaio, sem que com isso perdesse a minha visão critica. Espero tê-lo conseguido.

Infelizmente, tudo o que se escreveu até à data foi pouco e muito parcial: primeiro pelos advogados de defesa, depois nas biografias de alguns dos acusados, logo nos anos a seguir ao julgamento, ou o contraditório feito por mim, uns anos mais tarde, em blogues ou em jornais, tarefa que assumi com sacrifício e determinação. Sem falsas modéstias, acredito que contribuí para ajudar a equilibrar o prato da balança, mas não o suficiente. A bem da verdade, seria útil que passados todos estes anos fosse possível que alguém independente, descomprometido, pudesse explicar de A a Z o que aconteceu neste período negro da nossa democracia. Para bem do rigor histórico e pela defesa da liberdade e da democracia. Porque a história não se apaga, nem se reescreve, goste-se ou não dela.

Dedicado ao meu Pai, pela sua coragem, justiça e sentido de dever."

Portanto vai começar o branqueamento geringonçal de um dos maiores crápulas que este regime pariu, devidamente amnistiado pelo criminoso "pai fundador". Imagino que o luto nacional não deva tardar a ser declarado (não em meu nome, seguramente).

https://observador.pt/programas/emissao-especial/hoje-para-mim-morreu-o-assassino-do-meu-pai-mas-nao-e-um-dia-de-alegria/ - a ouvir estas declarações, que descrevem perfeitamente o crápula que foi. É como assassino que tem de ser recordado, por muito que custe a muitos.

Morreu um "Herói " :

  • Maio 1980, atentado bombista contra administrador fabril.

  • Maio 1980, morte de um militar da GNR

  • Outubro 1980, morte de um cliente de um banco durante um assalto.

  • Novembro 1980, ferimentos graves em agentes da PSP e civis após ataque com granada.

  • Fevereiro 1981, Um ferido civil em atentado bombista num banco.

  • Março 1981, civil baleado fica paraplégico.

  • Março 1981, administrador empresarial baleado na pernas.

  • Abril 1981, civil baleado nas pernas.

  • Maio 1981, disparos de rocket contra alvo civil.

  • Junho 1981, troca de tiros com a PSP.

  • Junho 1981, administrador empresarial baleado nas pernas.

  • Agosto 1981, administrador empresarial e motorista baleados gravemente.

  • Setembro 1981, atentado à bomba em Felgueiras.

  • Outubro 1981, morte de dois militares da GNR num atentado com carro armadilhado.

  • Outubro de 1981, assassinado um cliente de um banco durante o assalto.

  • Outubro 1981, administrador empresarial baleado nas pernas.

  • Dezembro 1981, atentado bombista contra 3 postos da GNR.

  • Janeiro 1982, atentado bombista contra posto da GNR.

  • Janeiro 1982, atentado bombista contra residência de um industrial.

  • Abril 1982, atentado bombista contra residências de dois industriais.

  • Junho 1982, atentado com armas de fogo contra dirigentes de cooperativa.

  • Agosto 1982, atentado com carro armadilhado.

  • Agosto 1982, atentado com explosivos contra companhias aéreas.

  • Dezembro 1982, assassinato de um empresário.

  • Fevereiro 1983, tiroteio com PSP, agente da PSP ferido.

  • Março 1983, Guarda Fiscal e Segurança gravemente feridos num assalto.

  • Novembro 1983, atentado bombista contra posto da GNR.

  • Novembro 1983, dois atentados bombistas provocam ferimentos num civil.

  • Novembro 1983, atentado bombista contra empresário.

  • Novembro 1983, funcionário de uma empresa ferido, com lesões permanentes, durante assalto.

  • Dezembro 1982, atentado bombista contra agência bancária.

  • Dezembro 1983, criança de 12 anos ferida em consequência de vários rebentaments de explosivos.

  • Dezembro 1983, atentado bombista contra empresário.

  • Janeiro 1984, atentado bombista contra administradores empresariais.

  • Janeiro 1984, atentado com armas de fogo e cocktail molotov contra residência de administrador empresarial.

  • Janeiro 1984, dois feridos, um fica tetraplegico, em assalto a carrinha de valores.

  • Fevereiro 1984, atentado bombista contra empresários.

  • Abril 1984, atentado bombista contra chefe das Finanças.

  • Abril 1984, morte de bebé de 4 meses e da avó em atentado bombista contra agricultor.

  • Maio 1984, atentado mortal contra administrador empresarial.

  • Junho 1984, ferimentos graves em administrador empresarial em atentado com armas de fogo.

  • Julho 1984, empresário ferido com gravidade em atentado com arma de fogo.

  • Julho 1984, atentado com arma de fogo automática contra posto da GNR.

  • Agosto 1984, atentado à bomba contra empresa.

  • Setembro 1984, atentado com granada contra penitenciária.

  • Setembro 1984, atentado bombista contra agricultores.

  • Janeiro 1985, atentado bombista contra navios NATO.

  • Janeiro 1985, atentado bombista contra agricultor.

  • Fevereiro 1985, atentado bombista contra militares alemães em Beja.

  • Março 1985, assassinato com armas de fogo de empresário.

  • Julho 1985, assassinato de un arrependido.

  • Dezembro 1985, atentado bombista contra objectivo militar em Oeiras.

  • Fevereiro 1986, assassinato a tiro do Director Geral dos Serviços Prisionais.

  • Abril 1986, ataque com arma de fogo contra esquadra da PSP, um agente ferido.

  • Setembro 1986, atentado bombista contra empreendimento turístico.

  • Agosto 1987, morte de agente da PSP por arma de fogo.

 

Ouviste-me falar em homenagear? Às vezes, deduzo que há aqui pessoas que ou têm sérios problemas de interpretação de língua portuguesa ou então gostam de vir pegar para ver se levam uma resposta torta. 

Eu recuso-me é entrar nessa interpretação enviesada e leviana que muitas pessoas fazem, ora falando somente das suas virtudes ora falando somente dos seus defeitos. Eu, quando falei, disse claramente que ele tinha qualidades e defeitos, só o alegado pode estar ali a mais, mas seguiu-se num contexto que eu, posteriormente, expliquei. Vou tentar desmontar isto como se não estivéssemos a fazer deste estaminé um Twitter desta vida, onde os esquerdalhos se colocam de joelhos perante o Otelo Saraiva de Carvalho e os direitolas, alguns mais extremados do que outros, vão afiar as facas contra a personagem em questão. 

Estamos a falar talvez de uma das personagens mais complexas dentro do Movimento das Forças Armadas (MFA). Aconselho a leitura de algumas outras sobre ele, sobre outras personagens do período entre 1974-1976 e outros mais generalistas. Por norma, há uma tendência de analisarmos as pessoas a preto e branco. Por exemplo, se fores ler sobre o Salgueiro Maia, vais compreender que toda a gente tinha uma excelente opinião dele, só lhe apontando como principal defeito a falta de ambição. Depois, tens o Otelo Saraiva de Carvalho, que foi coautor do plano operacional da Operação Viragem Histórica e que foi comandante do COPCON. Pegando só nesta questão do comando do COPCON, ele encerrou em si próprio várias contradições e inconsistências pessoais e políticas, chegando a ir contra companheiros e amigos de armas. Só não teve mais falhas porque houve pessoas, como o Diniz de Almeida e o Rosado Luz, que o safaram de muitas asneiras. Depois, era uma figura extremamente influenciável, o Rosado Luz (COPCON) e o Vasco Lourenço (Movimento dos Nove - moderados) chegaram a aproveitar-se disso, uma vez que eles sabiam, e afirmaram inclusive, que a última pessoa a falar com ele antes de se deitar é que ficava a ganhar. E ele ficou sempre nesse limbo, nunca houve um real consenso sobre a personagem dele, tantas foram as vezes que metralhou os próprios pés. Depois disto, pego no primeiro ponto, o coautor do plano operacional que conduziu a uma revolução sem mortos, minto, houve mortos feitos pela PIDE/DGS. Uma operação, do ponto de vista estratégico, bem conduzida e que também beneficiou de alguma sorte.

Além disso, tens o envolvimento na questão das FP-25, onde ele foi acusado e condenado. Quanto a isso, nada a dizer, a não ser reprovar o que foi feito. Acho que ninguém por aqui faz qualquer apologia ao terrorismo. 

Depois de tudo isto, se quiseres fazer disto um Twitter, tens pessoal que o vai idolatrar e outro que o vai odiar. Onde reside a verdade? O que pesará mais? Pessoalmente, não sei, não me acho com maturidade e conhecimentos suficientes para me colocar em qualquer uma das barricadas, por isso aguardo que quem sabe mais disto, historiadores, se encarregue de enquadrar o devido contributo de Otelo Saraiva de Carvalho na história de Portugal. Há aqui demasiados tons de cinzento para eu conseguir fazer afirmações totalmente assertivas e cheias de certezas. A assertividade e totalidade de certezas, por norma, ficam para aqueles que são muito sapientes, coisa que eu não sou. O Pacheco Pereira é que tem razão, esta questão do Otelo é ótima para tribalizar os de esquerda e os de direita, afinal essa malta tem que se entreter com algo. 

Editado por Vaart10
  • Like 5

Compartilhar este post


Link para o post

Para mim a questão do Otelo é simples e deixa de haver questão no dia em que o país estiver capacitado que nem todas as pessoas que lutaram contra o Estado Novo (e que prestaram um enorme serviço ao país) lutaram pela Democracia e pela Liberdade. Havia gente que queria outra ditadura de direita, havia gente que queria uma ditadura de esquerda, etc.

Compartilhar este post


Link para o post
Citação de Tio Hans, há 3 horas:

Para mim a questão do Otelo é simples e deixa de haver questão no dia em que o país estiver capacitado que nem todas as pessoas que lutaram contra o Estado Novo (e que prestaram um enorme serviço ao país) lutaram pela Democracia e pela Liberdade. Havia gente que queria outra ditadura de direita, havia gente que queria uma ditadura de esquerda, etc.

No caso do Otelo era a questão da democracia direta. Se bem que, após uma viagem à Suécia, falou bem da social-democracia. Inconsistências. E até tens disso no 25-novembro, muita gente se esquece de quem era o segundo no comando do Eanes.

Editado por Vaart10

Compartilhar este post


Link para o post
Citação de Augusto, há 1 hora:
Spoiler

 

Quando morre alguém com um peso desproporcionado e contraditório na história, é comum dizer-se que “a história o julgará” ou que “ainda é cedo” para se fazer a história do seu papel.

A história tem os ombros largos, sobretudo quando a escrevemos com “H” grande. Mas as hesitações ou ambiguidades que lhe atribuímos são na verdade nossas. Não é para a história que é demasiado cedo; é a nossa sociedade, a nossa política ou a nossa cultura de debate público que podem não ser suficientemente maduras ou suficientemente serenas para fazer o seu julgamento. Quando assim é, sucedem-se as escapatórias: gente que não aceita que o passado seja julgado com os valores do presente passa a não aceitar avaliar os atos históricos no seu contexto; gente que acha que não nos podemos envergonhar da história já acha que nos devemos orgulhar do passado; e gente que acha que os seus adversários não devem ser seletivos com a memória atribui-se com facilidade esse direito.

A coerência aqui, contudo, não é complicada. Se admitimos que o contexto é essencial para entender a história, também temos de admitir que as escolhas pessoais, em cada contexto, têm uma carga moral que pode perfeitamente ser avaliada com critérios presentes ou passados, desde que eles sejam explicados e explícitos. Se desejamos orgulhar-nos da história e apelamos a que haja políticas para assinalar aquilo de que queremos orgulhar-nos, então temos de admitir que o mesmo vale para os aspectos que nos podem causar vergonha. E se não admitimos uma memória seletiva para os outros, também não podemos admitir uma memória seletiva para nós.

“A história”, escreveu uma vez João de Barros, “é um espertador do entendimento”. Mas só o pode vir a ser se a tomarmos por inteiro.

O contexto é, evidentemente, crucial para se avaliar os atos dos sujeitos históricos — mas essa evidência não é tão exculpatória como se julga. O mesmo Otelo Saraiva de Carvalho que, em 1974, deu ordens claras aos seus homens, jovens a quem teria sido fácil exaltar, para que não iniciassem violência, e assim teve um papel decisivo para que tivéssemos a revolução quase inteiramente pacífica que deu início ao nosso regime democrático, foi também o homem que nos anos 1980 permitiu que uma deriva de violência política se fizesse com sua responsabilidade política. Ainda que ele tenha sempre negado a sua participação ou decisão direta, e que tenha sido amnistiado de crimes políticos, e que tenha mesmo chegado a dizer que lhe seria aberrante ordenar a morte de quem quer que seja, a verdade é que — no mínimo dos mínimos — lhe teria sido exigível fazer tudo para conter a violência política que foi praticada em organizações políticas afins às suas.

Quem se quer orgulhar do papel do primeiro Otelo tem de estar preparado para admitir vergonha com o papel — por ação ou, pelo menos, por omissão — do segundo Otelo. E se é verdade que a maior parte de nós tem o luxo de afirmar, em liberdade e pela liberdade, a gratidão ao primeiro Otelo, também teremos de admitir que, para algumas pessoas — vítimas e familiares das vítimas —, a mancha que atribuem ao segundo Otelo tem um peso em sofrimento demasiado duro para as suas vidas. E quem acusa de memória seletiva aos que salientam o papel de Otelo no 25 de Abril fazendo por esquecer os anos 1980, não pode fazer discurso contra o terrorismo e a violência política em democracia nos anos 1980 branqueando o papel do terrorismo e da violência política de extrema-direita que tentou derrubar o 25 de Abril nos anos 1970.

Por outro lado, a pedagogia da história não pode fazer esquecer que as sociedades vivem no presente e fazem escolhas determinadas por ele. O erro daqueles que já em período democrático optaram pela violência política foi estarem tão convencidos do tipo de sociedade que queriam impor aos demais que achavam que poderiam dispensar a democracia pluralista para permitir à sociedade achar os seus próprios caminhos. A democracia pluralista, vitoriosa, não os tratou com a mesma arrogância. De Ramalho Eanes a Mário Soares e agora Marcelo Rebelo de Sousa, houve Presidentes da República que tiveram a sabedoria de entender o seu papel como o de possibilitarem à sociedade o superar dos seus traumas. Antigos adversários partidários e parlamentares, como o PS e o PCP, entenderam o mesmo. Portugal quebrou assim uma possível espiral de violência e recriminação — e valeu a pena.

Volto ao início. Quando morre alguém com um peso desproporcionado e contraditório na história, é comum dizer-se que “a história o julgará” ou que “ainda é cedo” para se fazer a história do seu papel. Mas não é para a história que é demasiado cedo; pode ser apenas para nós. A história recomeça sempre no dia seguinte. Se queremos, como eu quero, viver à altura de legados heróicos aos quais somos gratos, teremos também de saber viver assumindo as suas falhas e as suas manchas.

 

 

  • Like 5

Compartilhar este post


Link para o post

Devemos ser pessoas com entendimentos diferentes de o que é alguem que deve ser celebrado ou nao

Para mim qualquer pessoa que a certa altura da sua vida se envolve com uma organizacao terrorista responsavel por duas dezenas de mortes é um (censurado). Isto nao é um jogo de nuance em que se desconta uma coisa terrivel por uma positiva.

Alias muita dessa gente que perante um Polanski da vida que é condenado por violar uma miuda, defendem a cancel culture

E aqui a direito tambem nao vai atras porque em situacoes semelhantes com um direitolas qualquer tambem teem discurso semelhante.

Para mim e para muita gente resume-se esta morte de uma forma simples: "Morreu o Otelo, ja nao fazia ca falta desde 1976..."

  • Like 3
  • Concordo! 1

Compartilhar este post


Link para o post
Citação de Vaart10, Em 25/07/2021 at 11:06:

Porquê?

consideras esta pergunta respondida? 😅

já agora deixo aqui a mensagem do Ramalho Eanes, um perigoso moderado:

Citação

Leia na íntegra a mensagem de Ramalho Eanes:

"A notícia da morte do Otelo Saraiva de Carvalho magoou-me e surpreendeu-me. Magoou-me, por se tratar de mais um amigo que parte. Surpreendeu-me, porque estive, recentemente, com o Otelo, no funeral da sua mulher, e achei-o, naturalmente, abatido, mas, aparentemente, com vigor e saúde.

Conheci o Otelo na Guiné, onde o substituí na Direcção da Secção de Radiodifusão e Imprensa do Comando-Chefe. Tornámo-nos amigos. Foi, aliás, essa amizade que me levou a testemunhar em seu favor no julgamento a que foi submetido, apesar de muitos reparos e apelos para que o não fizesse.

O Otelo era um homem bom, generoso, embora, por vezes, pouco prudente, pouco realista - contraditório, mesmo. Adorava representar, até na vida real, esquecendo que a representação exige um espaço delimitado, em que tudo o que aí é normal não o é na vida real.

Para mim, e apesar de todas as contradições, o Otelo tem direito a um lugar de proeminência histórica. E tem esse direito, apesar da autoria de desvios políticos perversos, de nefastas consequências, porque foi ele quem liderou a preparação operacional do 25 de Abril, a mobilização dos jovens capitães, o comando da operação militar bem-sucedida.

E penso assim porque entendo que um Homem é uma unidade e continuidade, uma totalidade complexa, e que só é bem julgado quando considerando, historicamente, esse quadro e o seu contexto. Mas há homens que, num momento histórico especial, se ultrapassam, ganhando dimensão nacional, indiscutível, porque souberam perceber e explorar uma oportunidade histórica única, e sentir os anseios mais profundos do seu povo.

Otelo é uma dessas personalidades. A ele a pátria deve a liberdade e a democracia. E esta é dívida que nada, nem ninguém, tem o direito de recusar.

António Ramalho Eanes"

 

Editado por F_Tex
  • Like 1

Compartilhar este post


Link para o post
Citação de Ego Sum, há 2 horas:

A coisa está negra na Tunísia. A crise do Covid está-se a transformar numa crise política e social.

Espero que a coisa não descarrile, foi o único país que de facto virou democracia consequência da primavera árabe.

Crise na Tunísia: Presidente suspende Parlamento e demite chefe do Governo

Só na Tunísia? Andas a dormir. 😂

Citação de Vaart10, há 8 horas:

Ouviste-me falar em homenagear? Às vezes, deduzo que há aqui pessoas que ou têm sérios problemas de interpretação de língua portuguesa ou então gostam de vir pegar para ver se levam uma resposta torta. 

Eu recuso-me é entrar nessa interpretação enviesada e leviana que muitas pessoas fazem, ora falando somente das suas virtudes ora falando somente dos seus defeitos. Eu, quando falei, disse claramente que ele tinha qualidades e defeitos, só o alegado pode estar ali a mais, mas seguiu-se num contexto que eu, posteriormente, expliquei. Vou tentar desmontar isto como se não estivéssemos a fazer deste estaminé um Twitter desta vida, onde os esquerdalhos se colocam de joelhos perante o Otelo Saraiva de Carvalho e os direitolas, alguns mais extremados do que outros, vão afiar as facas contra a personagem em questão. 

Estamos a falar talvez de uma das personagens mais complexas dentro do Movimento das Forças Armadas (MFA). Aconselho a leitura de algumas outras sobre ele, sobre outras personagens do período entre 1974-1976 e outros mais generalistas. Por norma, há uma tendência de analisarmos as pessoas a preto e branco. Por exemplo, se fores ler sobre o Salgueiro Maia, vais compreender que toda a gente tinha uma excelente opinião dele, só lhe apontando como principal defeito a falta de ambição. Depois, tens o Otelo Saraiva de Carvalho, que foi coautor do plano operacional da Operação Viragem Histórica e que foi comandante do COPCON. Pegando só nesta questão do comando do COPCON, ele encerrou em si próprio várias contradições e inconsistências pessoais e políticas, chegando a ir contra companheiros e amigos de armas. Só não teve mais falhas porque houve pessoas, como o Diniz de Almeida e o Rosado Luz, que o safaram de muitas asneiras. Depois, era uma figura extremamente influenciável, o Rosado Luz (COPCON) e o Vasco Lourenço (Movimento dos Nove - moderados) chegaram a aproveitar-se disso, uma vez que eles sabiam, e afirmaram inclusive, que a última pessoa a falar com ele antes de se deitar é que ficava a ganhar. E ele ficou sempre nesse limbo, nunca houve um real consenso sobre a personagem dele, tantas foram as vezes que metralhou os próprios pés. Depois disto, pego no primeiro ponto, o coautor do plano operacional que conduziu a uma revolução sem mortos, minto, houve mortos feitos pela PIDE/DGS. Uma operação, do ponto de vista estratégico, bem conduzida e que também beneficiou de alguma sorte.

Além disso, tens o envolvimento na questão das FP-25, onde ele foi acusado e condenado. Quanto a isso, nada a dizer, a não ser reprovar o que foi feito. Acho que ninguém por aqui faz qualquer apologia ao terrorismo. 

Depois de tudo isto, se quiseres fazer disto um Twitter, tens pessoal que o vai idolatrar e outro que o vai odiar. Onde reside a verdade? O que pesará mais? Pessoalmente, não sei, não me acho com maturidade e conhecimentos suficientes para me colocar em qualquer uma das barricadas, por isso aguardo que quem sabe mais disto, historiadores, se encarregue de enquadrar o devido contributo de Otelo Saraiva de Carvalho na história de Portugal. Há aqui demasiados tons de cinzento para eu conseguir fazer afirmações totalmente assertivas e cheias de certezas. A assertividade e totalidade de certezas, por norma, ficam para aqueles que são muito sapientes, coisa que eu não sou. O Pacheco Pereira é que tem razão, esta questão do Otelo é ótima para tribalizar os de esquerda e os de direita, afinal essa malta tem que se entreter com algo. 

K

BTW o Hitler gostava muito de cães. 😍

E até era artista. 

Editado por Lestonks

Compartilhar este post


Link para o post
Citação de Lestonks, há 3 minutos:

BTW o Hitler gostava muito de cães. 😍

E até era artista. 

Gostar muito de caes nao é propriamente uma virtude e ele ser "artista" é uma questao de opiniao

Eu tambem desenhei mangalhos numas paredes nos 90s e isso nao faz de mim "artista"

Compartilhar este post


Link para o post
Citação de Burkina2008, há 19 minutos:

Gostar muito de caes nao é propriamente uma virtude e ele ser "artista" é uma questao de opiniao

Eu tambem desenhei mangalhos numas paredes nos 90s e isso nao faz de mim "artista"

boy you must be fun at parties 

Compartilhar este post


Link para o post
Citação de Burkina2008, há 9 horas:

Eu tambem desenhei mangalhos numas paredes nos 90s e isso nao faz de mim "artista"

mais um que ia para Vila Nova de Mil Fontes.

  • Like 8

Compartilhar este post


Link para o post
Citação de Puto Perdiz, há 7 minutos:

mais um que ia para Vila Nova de Mil Fontes.

será que o Conselho de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados agora se desloca a Odemira por causa disso? Afinal de contas, há destruição de propriedade privada (e aqui há mesmo, não como no Zmar, em que foi inventada)

Compartilhar este post


Link para o post
Citação de Puto Perdiz, há 41 minutos:

mais um que ia para Vila Nova de Mil Fontes.

Mais Paredes de Coura

Compartilhar este post


Link para o post
Citação de Burkina2008, há 6 horas:

Mais Paredes de Coura

gente moderna. Eu sou mais Vilar de Mouros. 2003. Old School!

Compartilhar este post


Link para o post
Citação de IlidioMA, há 8 minutos:

gente moderna. Eu sou mais Vilar de Mouros. 2003. Old School!

Eu acho que a ultima vez que fui a Paredes de Coura foi nessa altura. Bons dias com Sum 41, Good Charlotte, Cardigans...

  • Like 1

Compartilhar este post


Link para o post

Crie uma conta ou entre para comentar

Você precisa de ser membro desta comunidade para poder comentar

Criar uma conta

Registe-se na nossa comunidade. É fácil!

Criar nova conta

Entrar

Já tem uma conta? Faça o login.

Autentique-se agora

×
×
  • Criar Novo...