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Vinte anos depois, a seleção vai jogar sem a sombra de Cristiano Ronaldo

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Vinte anos depois, a seleção vai jogar sem a sombra de Cristiano Ronaldo

Chegou à seleção como Sports Marketing Manager Football Portugal da Nike, fazendo de elo de ligação entre a marca e a FPF, mas, pouco depois, assinou um imberbe Cristiano Ronaldo para a marca norte-americana e tudo mudou. Esta semana, quem virou manager do capitão da seleção em 2018 e foi, nessa condição, aos últimos três grandes torneios com Portugal, anunciou a sua saída da equipa nacional. Por lá, a presença de Ricardo Regufe era vista quase como “dado adquirido”

Paris estava quente, o verão aquecia-se e os tremores no estádio esquentavam-na. Com o joelho apertado pelas ligaduras que o impediam de esticar a perna, um inusitado Cristiano inquietava-se diante do banco de suplentes de Portugal, de certo contrariando os conselhos médicos após a pancada na pior das articulações para um futebolista: ele gritava, abanava os braços, empurrava Fernando Santos, assobiava e gesticulava indicações para o campo. A nervosa final do Europeu de 2016 sempre mais especial ficará pela recordação do capitão machucado, mas não caído, a ajudar ansiosamente como podia até as duas horas mais preciosas do futebol português serem consagradas pelo último sibilo do árbitro.

Festa no Stade de France, o caneco era dos portugueses nas barbas dos franceses e Ronaldo, extasiado na euforia, fechava os olhos e berrava ao céu, de braços abertos em contemplação quando um primeiro corpo o apertou num abraço. Não era um jogador, o selecionador, um elemento do staff técnico, nem um anónimo roupeiro. Era Ricardo Regufe, que com ele se deixou cair no chão.

Dentro dos 30 e tal segundos desse caloroso amparo cabiam uns 15 anos de relação, de uma proximidade tal que a seleção virou, aos poucos, mais uma assoalhada para a amizade entre o futebolista e seu assistente pessoal do que lugar onde um oficial fazia a ponte entre a equipa e a marca desportiva que a patrocinava. Assim entrou na Federação Portuguesa de Futebol (FPF) o fomentador do tal abraço parisiense que o Liechtenstein será o primeiro adversário, esta quinta-feira e em mais de duas décadas, a não o ver coabitar na comitiva da seleção nacional. Ver “de perto” o que sucedeu na vida da equipa durante esse período é eufemismo escrito pelo próprio, há dias, quando anunciou o fim de uma ligação pública, visível a todos, mas pouco explicada para fora ao longo dos anos.

Ricardo Regufe viu, presenciou e esteve em todas as competições com Portugal desde o Europeu caseiro, onde os gregos foram desmancha-prazeres. Um, dois anos antes, na vigência de António Oliveira a selecionador, o nortenho ‘entrou’ na equipa como único responsável pela ligação entre a FPF e a Nike, onde era “Sports Marketing Manager Football Portugal”. O pomposo título do cargo mora no seu LinkedIn, a realidade da função é descrita à Tribuna Expresso por quem partilhou dias com ele na seleção: garantia que federação e a Nike cumpriam as “obrigações contratuais”, geria atividades da marca que requeriam a presença de jogadores (sessões fotográficas, por exemplo), coordenava tudo relacionado com equipamentos, material de treino ou chuteiras.

Quando o talento, a competência e o trabalho de Ronaldo lhe fixaram a natural residência na seleção, o papel de Regufe acentuou-se. Cinco anos mais velho do que um então madeirense de madeixas, acne e fintas a toda a hora, foi o responsável pela assinatura do primeiro contrato de Cristiano com a Nike. “Dois anos após começar, assinei o melhor jogador de todos os tempos!”, escreveu na rede social que convida a escancarar percursos profissionais, no sumário dos seus 18 anos a trabalhar na marca. “Mudou por completo o jogo para mim, para a Nike e para o CR, obviamente”, acrescentou. E com razão.

Estando oficialmente entre os atletas ligados ao swoosh norte-americano, o português cresceu galopantemente na escala de exaltação que lhe era dedicada em anúncios, outdoors ou modelos personalizados de chuteiras. A marca coçar-lhe as costas enquanto o futebolista contribuía ao alívio da comichão endinheirada da Nike é relação normal, para isso se pagam milhões. Aos poucos, Cristiano e Ricardo ficaram “muito amigos”. Prestando o seu serviço à FPF, o homem da Nike repartiu atenções entre as funções e vários jogadores, não só Ronaldo. Os selecionadores aparecendo e indo, os futebolistas permanecendo por maior ou menor tempo, Regufe foi-se mantendo nas suas funções e com a sua presença “sempre pacífica e normal”, garantem.

Com o tempo, o intangível do que era ser Cristiano Ronaldo cresceu sem espartilhos à escala planetária que hoje ainda engorda. As cinco Liga dos Campeões, a meia dezena de Bolas de Ouro, os recordes goleadores, tudo surgiu quando a capitania da seleção já lhe apertava o braço. Com esse mesmo tempo que se amiga de hábitos, Ricardo Regufe virou figura “importante” no dia a dia de ligações entre estrutura e Nike, estrutura com jogadores e outros afazeres. “É aconselhável ter pessoas com conhecimento das diferentes perspectivas e que façam pontes quando é preciso fazê-las”, explica à Tribuna Expresso quem coincidiu com ele na FPF.

E, com o longevo tempo que Ronaldo acumula na equipa de Portugal - sem paralelo nos 198 jogos e 119 golos -, há muito que todos os futebolistas da seleção lá chegaram depois dele, encarando a presença de Ricardo Regufe como um dado adquirido, uma mobília de casa que se manteve no recheio até quando o cordão à Nike se cortou. Em 2018, ainda com Cristiano no Real Madrid, Ricardo Regufe saiu da marca e dedicou-se a ser manager, condição na qual esteve no Mundial da Rússia desse ano, no do Catar (2022) e no Europeu (2020) jogado em 11 cidades. Equipado à seleção nacional, com a acreditação pendurada ao pescoço, também abraçou Cristiano Ronaldo no relvado do Estádio do Dragão, em 2019, quando Portugal conquistou a primeira Liga das Nações.

Aí e antes, Ricardo Regufe já seria como Julian Ward o esmiúçou publicamente, para aguçar o respeito alheio. Também no LinkedIn, o hoje diretor-desportivo do Liverpool e antigo chefe do scouting e análise da FPF enalteceu-lhe a “inteligência e organização” com “fortes relações” entre “treinadores, jogadores e praticantes”, além do “conhecimento da indústria do futebol”, das “excelentes aptidões pessoais” e do “trato próximo”. Gozando que função fosse, terá sido a sua forma de ser e a empatia que gerou no seio da seleção a possibilitá-lo como alguém que almoçava com o staff, convivia nos espaços dos jogadores e os acompanhava em vários momentos, tanto lúdicos (os passeios em público antes dos jogos) como mais atinados (dentro do balneário).

A relação mais do que próxima com Cristiano Ronaldo manteve-se. Esteve com ele no regresso ao Manchester United, lugar sinónimo de felicidade para o jogador, mas de onde saiu a mal, sujeito a interpretarem-se como promotor de uma birra ou uma das partes de um desentendimento face aos atos de desgosto que evidenciou perante Erik ten Hag, o treinador que o preteria dos titulares. E, mais do que nunca, falou por ele quando chegou o momento de o jogador ir embora.

Vários jornais ingleses deram conta de como Ricardo Regufe serviu de intermediário entre a vontade de Cristiano ir embora e o zilionário desejo do Al Nassr o puxar para a Arábia Saudita. Não sendo seu agente, supriu a ausência de Jorge Mendes, empresário de uma vida que não representou o português nesta transferência após supostamente o aconselhar a ficar no United, rangendo os dentes e lutando para retornar às boas-graças do treinador. Mas não, o destino foi o Médio Oriente e o “The Athletic” apresentou Regufe como “figura central” nas negociações e única pessoa que em Manchester era percecionada como capaz de sensibilizar Ronaldo para vontades do clube ou convencê-lo a aceder a pedidos.

Na ressaca do Mundial, muitos relatos o dão como fulcral na andadura que levou ao contrato para Cristiano Ronaldo estar a receber quase €200 milhões por época entre sauditas. Convocado por Roberto Martínez, o jogador descolou-se de Riade para a mais longa das viagens que teve de voar para representar Portugal. Pela primeira vez desde a estreia, em Chaves, contra o Cazaquistão, o capitão português não correrá com a sua sombra na seleção nacional.

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Hoje faz hattrick e a campanha do Ronaldo a titular no Euro vai começar

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Citação de johan, há 12 minutos:

Hoje faz hattrick e a campanha do Ronaldo a titular no Euro vai começar

Regufe - Ramos na frente de ataque 

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